terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Márcia Tiburi escreve no seu blog:


Escrito em:5/1/2008
ESSAPOAÉBOA acordou Porto Alegre
Há poucos dias na Folha de São Paulo um artigo de Luciano Trigo perguntava com toda a coragem – aquela que se perdeu ao analisar “arte” atualmente - se “é de fama e dinheiro que se trata a arte?”.
Esta pergunta é das mais importantes quando se trata de pensar a arte em tempos de capitalismo e derrocada das idéias que poderiam combatê-lo. A arte que, pelo menos no século XX, sempre esteve do lado da crítica, que sempre defendeu posições e posturas, é, na verdade, negada pelo sistema das artes, subsistema do capitalismo.
A arte só avança no seu tempo e faz seu papel de criadora de vida na hora em que ela nega o rumo pré-determinado da economia, das formas de comportamento, das idéias vigentes. Poucos lembram disso. Relações, negócios, a construção de uns poucos artistas como gênios ou celebridades cujas obras serão vendidas por muitos dinheiros é o que caracteriza a arte hoje. O resultado evidente desta riqueza de poucos é o empobrecimento da genuína experiência com as artes. Nem na escola ela é preservada. Não existe ensino de artes (salvo exceções que salvam a própria regra), nem existe cultura voltada para sua valorização. Por outro lado, há ainda mais um resultado curioso: montes de artistas com o amor próprio abalado porque perderam a vez, pois a fórmula, boa na época em que a arte era mesmo uma coisa de gênios, quando o tempo e a história deslumbravam-se com a descoberta da subjetividade e a criação humana, já não vale mais. Hoje existem mudanças na nossa sensibilidade coletiva que quem trabalha com arte precisa ter atenção. O artista genuíno (não o negociante ou a mercadoria) sabe que deverá desapegar-se deste mito do artista genial e entregar-se à verdadeira grande descoberta do nosso tempo: a cooperação. É ela que mostra que o capitalismo não é tudo. Em outras palavras ela significa participação e democracia. Artistas “geniais” ainda existem e se quiserem continuem a existir (sejam livres!), mas hoje se trata de outros desafios ao que chamamos arte e que nada mais deve ser do que o que sempre foi, a produção simbólica da liberdade humana.
Quem participou e construiu ESSAPOAÉBOA pode bem responder com estas linhas à pergunta com que inicia este artigo. Foi um trabalho na contracorrente do sistema e que resultou em produção coletiva de liberdade. ESSAPOAÉBOA não teria surgido se ali estivesse representado o velho “sistema das artes”. Ela só pode acontecer porque as pessoas envolvidas quiseram que ela acontecesse e lutaram por algo melhor do que ficar chorando o descaso e a corrupção dos donos dos poderes. O potencial de integração e resistência – ao que podemos chamar poder - é o que os artistas - guardiões de alguma coisa como a sensibilidade que a sociedade suicida joga no lixo todos os dias - podem nos mostrar. A tarefa do artista de acordar o mundo não é nada simples.
ESSAPOAÉBOA acordou Porto Alegre.

http://bloglog.globo.com:80/marciatiburi/

2 comentários:

Lília Manfroi disse...

Marcia, parabéns pelo vibrante artigo.
Só percebe tudo isto quem tem sensibilidade.
abração, Lília Manfroi

Anônimo disse...

A infantilidade e primarismo de seus posts me assustam, diante da pretensão de "levar a filosofia para as massas por meio de programas televisivos que contradizem, por sinal, o seu próprio discurso. A derrocada de ideias que se opunham, de maneira irrealista, ao capitalismo não inviabiliza a crítica aos efeitos perversos do capitalismo. O capitalismo, mesmo não tendo sistemas rivais à altura, pode e deve ser aprimorado. Isso é elementar.